Vi o Ceará por Raimundo Soares Filho

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Na Coluna Política de hoje do O POVO: a “desintegração cearense”

A DESINTEGRAÇÃO DE UM CRIME

Reportagem exclusiva do O POVO mostra que o empresário Raimundo Morais Filho, através de uma nota assinada (com firma reconhecida em cartório), nega o conteúdo da matéria veiculada pela Veja. Segundo a revista, a Polícia Federal investiga um esquema de corrupção que teria desviado R$ 300 milhões de prefeituras e que entre os beneficiados estariam o governador Cid Gomes e o deputado federal Ciro Gomes. Veja o fac-símile da nota na edição de hoje do O POVO. Na nota, Morais afirma que não redigiu “um minucioso relatório” sobre os crimes para negociar “delação premiada”, como afirma o texto da revista. O empresário disse que falou somente uma vez com o repórter Leonardo Coutinho, autor da reportagem, que solicitava uma entrevista. “Entretanto, disse apenas que se negava a ser entrevistado para evitar polêmica sobre o caso ou mesmo retaliação”. Morais também diz na nota que lamenta o enfoque da Veja, que se mostra “tendenciosa e se apresenta de forma distorcida da realidade”.

A LUPA SOBRE AS OPERAÇÕES

Jogue-se a lupa no envolvimento de Raimundo Morais Filho nas investigações da PF e nas operações Gárgula e Província. O Ministério Público do Ceará, em conjunto com a CGU, PF e Receita Federal, desencadeou, em 3 de março, a Operação “Província”. O objetivo foi desarticular uma quadrilha especializada no desvio de verbas públicas, com a participação de servidores públicos e membros de comissões de licitação. Os trabalhos tiveram o apoio do TCM e da Secretaria da Segurança Pública do Ceará. Durante a operação “Província” foram efetuadas nove prisões e cumpridos 12 mandados de busca e apreensão. A operação foi um desdobramento da Operação “Gárgula”, deflagrada em dezembro do ano passado pela CGU e Polícia Federal, na qual também foi identificada a atuação de um grupo de empresas que vinha sendo investigado pelo Ministério Público do Estado do Ceará. Ou seja, são duas operações entrelaçadas.

O PERSONAGEM CHAVE DO CASO

No balanço oficial da Operação Gárgula (dezembro de 2009), a Polícia Federal afirmou em nota que “finalizou os trabalhos cumprindo os 15 mandados de prisão e os 52 mandados de busca e apreensão expedidos pela Justiça Federal”. É ai que o caldo começa a engrossar. Morais não foi preso nessa operação (como havia afirmado a revista), mas entre as 15 prisões está relacionado o nome do vice-prefeito de Guaramiranga, Marcos Antônio Caracas de Souza, e seu irmão Francisco Ésio de Souza Junior, que é genro do prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa (PR). Na sequência das investigações, a Polícia Federal desencadeou, em 29 de abril, quatro meses depois da primeira ação, a Operação Gárgula II, que atingiu 11 prefeituras do Interior (Maracanaú, Itaitinga, Aracati, Fortim, Cariús, Senador Pompeu, Quixeramobim, Quixeré, Miraíma, Beberibe e Pacujá). É a partir dessa teia de relações que surge o nome do advogado Paulo Goyaz, peça-chave no rumo dos complexos acontecimentos.

NOS CORREDORES DE BRASÍLIA

Paulo Goyaz Alves da Silva é um conhecido advogado com atuação no Distrito Federal. Filiado ao PTB, é secretário de Relações Sindicais do Partido em Brasília. Ligado ao senador Gim Argello (suplente de Joaquim Roriz, que renunciou), chegou a ocupar o cargo de subsecretário no Governo do DF no auge da crise do Mensalão do DEM (ficou no cargo até a decretação da prisão do ex-governador José Roberto Arruda). Antes, teve seu nome citado no mensalão petista chegando a depor no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara. No depoimento, confirmou ter recebido R$ 964,36 mil do PP para defender o ex-deputado Ronivon Santiago. A suspeita era que o dinheiro tenha sido fruto do esquema capitaneado pelo publicitário Marcos Valério. Goyaz também depôs como testemunha de defesa do então deputado Pedro Corrêa (PP), apontado como um dos beneficiários (R$ 4,1 milhões) do esquema de Valério.

CONEXÕES COM O CEARÁ

Mas, voltemos ao Ceará. Em 2008, Goyaz foi o advogado contratado pelo PTdoB cearense numa ação contra a diplomação do deputado estadual Júlio César Costa Lima, tucano opositor de Roberto Pessoa em Maracanaú. É estranho que o modesto PTdoB tenha poder de fogo para tal. Logo depois da Operação Gárgula II, em maio passado, Goyaz foi constituído por Raimundo Morais Filho para ser o seu advogado nas questões relativas ao caso. O fato chama a atenção. Afinal, em sua nota, Morais diz que “vive modestamente”. Então, como teve dinheiro para pagar um advogado com tal envergadura? Na sequência dos acontecimentos, Goyaz passou a ter atuação ainda mais marcante na política do Ceará ao ser constituído como advogado da coligação “Por um Ceará melhor para todos”. Portanto, advoga para a aliança que une o PR ao PPS e tem Lúcio Alcântara (PR) como candidato a governador. Ou seja, Goyaz foi advogado de Raimundo Morais Filho, o suposto delator do desvio dos R$ 300 milhões que envolveria Cid e Ciro Gomes, enquanto também advogava para a coligação que se opõe ao governador. Enfim, pela teia de circunstâncias, a história requer melhores e maiores investigações.

por Fábio Campos

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